domingo, 19 de outubro de 2014

Sonhos

Hoje me deu vontade de voltar a escrever... 
Quieta, em casa, refletindo bastante sobre tudo, tive um sonho hoje que me fez repensar sobre o quanto tenho que valorizar os que estão perto. 
Sonhei com a vó Diva. Que ela sentava do meu lado, depois de um tempão sem me ver e eu contava pra ela como estava minha vida, das coisas que aprendi, do que estudei, do que conheci, do que vivi, de onde viajei. E ela ouvia com tanto orgulho que eu acordei e me senti vitoriosa só por ter podido conhecer essa lindona que foi minha bisavó tão querida. 
Me senti motivada a permanecer tendo fé nas escolhas que tomei e que mesmo dolorosas, vão me trazer um bem maior. Guimarães Rosa escreveu que "Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo" e acho que precisava disso pra ter a força de que preciso. 
Acho normal também as derrapadas que frequentemente damos. São muitas as surpresas ruins que temos no meio do caminho. Pedras que nos fazem tropeçar... Mentiras que nos fazem cair... O desafio é manter o foco. E que assim seja... Buscando o bem maior!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

O homem que gostava de ipês amarelos


Tantas vezes escrevi aqui e sempre tinha uma frase, um pensamento, uma idéia: sua.
Tanto te admirei que sempre quis ao menos tentar pensar como você.
Fico orgulhosa em lembrar que foram frases suas que foram o meu pedágio para pequena aba pedagógica que existe em minha vida, e que eu amo tanto.
Ah, Rubem, você podia ter deixado uma obra imensa escondida no meio do seu jardim, de surpresa, pra gente se deliciar. Não?
Me dói pensar que eu preciso ainda ler tanta coisa dele, e já li quase tudo. Agora me dou doses homeopáticas de Rubem Alves, por ter medo que se acabe minha poção de sabedoria.

Mas eu me vi feliz quando vi que você não ficou preso num corpo que não podia te servir mais. Que não ia mais poder te fazer ver os ipês amarelos. Fique alegre em ver que você se foi com a serenidade de ter vivido e ensinado plenamente.

Nesses dias reli tanta coisa sua. Tanta coisa que sempre me toca tanto... Como a história das pipocas:

"Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão - sofrimentos cujas causas ignoramos."

Quer coisa mais linda e simples que isso? Como você consegue colocar em texto aquilo que sempre pensei sozinha???
Lembro de uma postagem que fiz, sobre o fogo, que também citei você.

Nos dias mais tristes, procuro lembrar:

"Compreendi, então, que a vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário,
de que a vida é um álbum de mini-sonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa
que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira
."

E percebi que vivi e tenho em memória momentos lindos e alegres, que justificam olhar sempre para as coisas com uma visão positiva e otimista. Acreditar que existe a mudança, que existe a esperança.

Procuro também me policiar na escutatória. Tenho muita tendência a falar. Pouco a ouvir...

"O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranqüila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: "Se eu fosse você". A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção (...)
Parafraseio o Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma." Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Certo estava Lichtenberg – citado por Murilo Mendes: "Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas." Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos..."

E como gosto muito de falar, tenho sempre o costume de escrever. Aqui, cartas. Ah, as cartas:

"
A diferença entre a carta e o telefone é simples. O telefone é impositivo. A conversa tem de acontecer naquele momento. Falta-lhe o ingrediente essencial da palavra que é dita sem esperar resposta. E, uma vez terminado, os dois amantes estão de mãos vazias.
Mas a mulher tem nas mãos uma carta. A carta é um objeto. Se não tivesse podido recolher-se à sua solidão, ela poderia tê-la guardado no bolso, na deliciosa espera do momento oportuno. O telefonema não pode esperar. A carta é paciente. Guarda as suas palavras. E, depois de lida, poderá ser relida.
"

Tenho prestado mais atenção nas flores. Tem prestado mais atenção no céu. Nas árvores. Nas pessoas. Não é que eu não fizesse isso antes com certa admiração. Mas você me faz dar valor as coisas que vejo. Me faz ver Deus nesses mínimos detalhes. Me faz ver milagre em tudo.

"Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?
Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar."

A impressão que tenho é que eu poderia te ler por mais 30, 60 anos e sempre haveria de me encantar.

Lembrei também de uma frase: "Aquilo que está escrito no coraçao não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno." E lembrei que realmente lembro demais das coisas. Memória por demais de afiada. Bom. As vezes ruim, não é bom lembrar de coisas ruins com tantos detalhes. Mas aqui me regozijo porque percebo que aquilo de mais importante sempre está aqui, comigo, perto.

Assim, você me ensinou muito também sobre o amor. "Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”. Talvez por isso minha teimosia em tentar. Em acreditar nele. Quando todo mundo diz pra não acreditar nele. Pensar num pássaro que voa e pode não voltar mais faz com que a gente valorize mais os momentos de proximidade com o pássaro...

Eu, que não sei definir o amor, penso sempre em suas definições. "Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. De alguma forma a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora. Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino. Quem não pode suportar a dor da separação, não está preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de graça. Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta,a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro."

Se tem uma frase sua, que pra mim resume tudo o que você é, é essa: "As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor.
Aprendemos palavras para melhorar os olhos.
" Você sempre melhorou meus olhos. Me ensinou profissional, pessoal e, sobretudo, mente. Até minha religião se tornou mais clara com seus pensamentos. Em dias que a gente vê tanta coisa escrita: livros, internet. Fala-se e escreve-se sobre o que se quer. Torna-se um oásis as palavras que são para ajudar a ver o mundo melhor. As suas palavras são assim. Todas! Melhoram os olhos. E a maior beleza de tudo isso é que essas palavras, sua obra, torna você eterno. De um certo modo, você está sempre por aqui!

Ah Rubem Alves, você é assim. Das leituras, das vezes que te vi de perto. Dá sempre vontade de falar: Fica mais um pouco, fala um pouco mais. É gostoso te ouvir...

E pra encerrar, uma historinha simples, que resume o que é: "
Quero contar para vocês a estória que mais tenho contado - não aconteceu nunca, acontece sempre. Um homem muito rico, ao morrer, deixou suas terras para os seus filhos. Todos eles receberam terras férteis e belas, com a exceção do mais novo, para quem sobrou um charco inútil para a agricultura. Seus amigos se entristeceram com isso e o visitaram, lamentando a injustiça que lhe havia sido feita. Mas ele só lhes disse uma coisa: "Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá." No ano seguinte, uma seca terrível se abateu sobre o país, e as terras dos seus irmãos foram devastadas: as fontes secaram, os pastos ficaram esturricados, o gado morreu. Mas o charco do irmão mais novo se transformou num oásis fértil e belo. Ele ficou rico e comprou um lindo cavalo branco por um preço altíssimo. Seus amigos organizaram uma festa porque coisa tão maravilhosa lhe tinha acontecido. Mas dele só ouviram uma coisa: "Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá." No dia seguinte seu cavalo de raça fugiu e foi grande a tristeza. Seus amigos vieram e lamentaram o acontecido. Mas o que o homem lhes disse foi: "Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá." Passados sete dias o cavalo voltou trazendo consigo dez lindos cavalos selvagens. Vieram os amigos para celebrar esta nova riqueza, mas o que ouviram foram as palavras de sempre: "Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá." No dia seguinte o seu filho, sem juízo, montou um cavalo selvagem. O cavalo corcoveou e o lançou longe. O moço quebrou uma perna. Voltaram os amigos para lamentar a desgraça. "Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá", o pai repetiu. Passados poucos dias vieram os soldados do rei para levar os jovens para a guerra. Todos os moços tiveram de partir, menos o seu filho de perna quebrada. Os amigos se alegraram e vieram festejar. O pai viu tudo e só disse uma coisa: "Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá..." Assim termina a estória, sem um fim, com reticências... Ela poderá ser continuada, indefinidamente. E ao contá-la é como se contasse a estória de minha vida. Tanto os meus fracassos quanto as minhas vitórias duraram pouco. Não há nenhuma vitória profissional ou amorosa que garanta que a vida finalmente se arranjou e nenhuma derrota que seja uma condenação final. As vitórias se desfazem como castelos de areia atingidos pelas ondas, e as derrotas se transformam em momentos que prenunciam um começo novo. Enquanto a morte não nos tocar, pois só ela é definitiva, a sabedoria nos diz que vivemos sempre à mercê do imprevisível dos acidentes. "Se é bom ou se é mau, sé o futuro dirá."


Outras postagens minhas com ele: 

Perguntas e Respostas 

O que amo

Com quem você quer envelhecer 

Livros 

Presépio

 

domingo, 13 de julho de 2014

A vitória nem sempre vem em forma de ganho



E teve Copa. E foi um sucesso. E acabou. E nossa, como é estranho ter semanas cheias, sem sair mais cedo do trabalho, sem ouvir o hino nacional tão lindo...
O que ficou do time, foi que o time não era um time campeão. O 7 a 1 trouxe a vergonha que precisávamos para aceitar a derrota. Mas não quero aqui falar desta derrota. Nem da campeã Alemanha, que fez jus ao seu título.
Quero falar da sensação de vitória que fica para o Brasil ao fim desta Copa. Tudo funcionou. Tudo foi admirado e admirável. Estive em 3 cidades sede durante a Copa. Tive a oportunidade de conversar com turistas de várias nacionalidades e o discurso recorrente era de que este é o país mais lindo do mundo e com o povo mais receptivo do mundo. 
Não vi violência. Senti segurança. O transporte funcionou.
Acredito que este é um típico caso de quando a vitória nem sempre vem em forma de ganho.
E levo isso para outras áreas. Para minha vida. Para pensar a vida de quem está próximo. 
Temos sempre em mente de que tudo é competição. Temos uma visão maniqueísta das coisas onde dividimos as pessoas em vilões e mocinhos. Temos o costume de ver o lucro. Temos a necessidade de estampar êxitos. Temos sempre que nos mostrar felizes. Temos que esconder as derrotas. 
E percebo que nem sempre a derrota é tão triste. Derrota motiva para a reversão e para uma possível e próxima vitória.

Não sou muito chegada em samba. Mas amooo a letra do Revelação. "É Deus quem a aponta a estrela que tem que brilhar... Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé..." 

Brasil, tenho orgulho de você, como Pátria. Como país. Como beleza natural. Como povo. 
Os que falam mal são a minoria, invejosa e incapaz de ser tão reluzente. 

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Tenho pena de quem vive se baseando na glórias ou derrotas dos outros. Que acompanha a vida alheia como se fosse novela. Que se aproveita ou se vangloria de fazer mal pros outros. Que age se apropriando do que era felicidade alheia. Dó... Deus: livrai-me de todo mal, amém. 


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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Consciência tranquila

Chego a conclusão, depois de muita reflexão que a consciência tranquila também é um conceito relativo. Hoje em dia valores éticos e morais estão tão deturpados que honestidade, caráter, confiança, generosidade, e tantos outros conceitos passaram a ser deturpáveis e as pessoas conseguem definir o quanto e quando vale a pena dizer a verdade, ser fiel, não trair.

Ainda vivo me martirizando, perguntando como ainda não desisti de ser sincera, honesta, correta, fiel diante de tantas atrocidades que acontecem em frente aos meus olhos e percebo que está bem!
Prefiro ser a enganada do que a que engana.
Prefiro ser a que apanha e não a que bate.
Prediro ser a que chora do que a que agride.

E acho que por mais que as pessoas se digam livres de remorsos, arrependimentos e se enxerguem corretas, idôneas, confiáveis, seus maiores castigos são as convivências e reminiscências diárias das atrocidades que cometeram.

Cada um sabe seu erro. Sabe o quanto humilhou, o quanto brincou, o quanto destratou, o quanto jogou fora coisas de valor.
Em muitos casos há desculpas, há perdão, há recomeços.

Nada mais feliz e recompensador do que o perdão, do que recomeçar, do que reconquistar.
Não há vergonha em ceder, em perdoar, em dar nova chance.
Conheço situações em que o recomeço foi mais encantador que a primeira vez.

No entanto, há pessoas que erram, se arrependem, não mudam, erram novamente, e perdem a chance de recomeçarem e reviverem o que lhes eram de tão importante. E aí caem num ciclo vicioso de mentiras, de relacionamentos falsos, de invenções de mentiras para o seu próprio conforto. E aí só sofrem.

Querem se desvencilhar do passado de mentiras e se afundam cada vez mais nelas. Envolvendo cada vez mais pessoas inocentes.
Machucando cada vez mais a si e aos outros.

Um desejo?
Que saibamos todos melhorar.
Todos? Sim. Os que agem assim e também a mim, que tenho meus erros: Ter um limite de perdões diante das atrocidades. Chego no meu limite e desisto.
Queria conseguir tolerar a humilhação, a dor e ser realmente mais corajosa de acreditar de novo.
Ainda não consigo!

terça-feira, 17 de junho de 2014

Mais um

E mais um ano chegando e eu aqui esperando que as mudanças que quero pra minha vida cheguem. Que a maturidade tome conta de mim do que eu sou e que eu aprenda a ter e dar valor pro que deve ser valorizado e que eu consiga deixar pra trás o que tem que ser deixado.

Neste novo ano quero que tudo seja completo. Nada de restos, retalhos, migalhas ou pedaços. Minha esperança é que nada me apareça pela metade. Como diz a música, quero que quando eu ficar triste, que seja por um dia e não um ano inteiro. Quero ter um ano mais feliz.

Há cada 4 anos meu aniversário coincide com a  Copa e é estranho e gostoso ver que isso transforma as pessoas. Vivemos estes dias como se nada importasse além da bola. Todo dia é motivo pra festa, cada jogo é um evento. E sempre lembro do meu aniversário assim há cada 4 anos. Gosto desse clima que faz com que os eventos sejam mais importantes que a minha data. Tenho um sentimento de ter responsabilidade em estar bem a cada ano que passa. E quando isso não coincide muito com o que estou vivendo, me sinto muito incapaz.

Apesar de dolorido, este ano tem sido revelador. Conheci grandes sentimentos. Grande amor, grandes e deliciosas amizades, grandes decepções com outras amizades, grandes reencontros com amizades antigas, grandes desafios profissionais, grandes aproximações e e realizações. Muito mais motivos pra agradecer do que pra reclamar. 

E ainda assim, eu reclamo.
Acabo de ler: Coisas boas acontecem o tempo inteiro, mas a mente registra com mais firmeza os eventos ruins. Sabe por que? Porque você não agradece devidamente quando algo bom acontece: o agradecimento marca a memória do evento.

Que eu tente então, ao contrário dos outros anos, comemorar de verdade mais este ano de vida que eu amo viver.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Tirando o foco

Costumo sempre falar de mim. Do que penso, do que sou.
Me peguei pensando em como seria se eu fosse o outro, diante de tantas decisões tomadas por mim que causam dores, mudanças, medos. 
Tenho sim curiosidade em saber como é o outro lado. Costumo ser transparente e é sempre muito fácil saber o que eu penso. Mas e o outro lado?
Penso em tão no que eu pensaria.
E logo me vem uma música à cabeça, se eu tivesse cometido erros, ou apenas andado por caminhos que não devesse...


 
Acho que meu primeiro pensamento seria: há ainda tempo? Diante dos nossos erros, será que a paciência, a tolerância do outro ainda suporta? 
Pensaria que havia coisas que eram óbvias até a uma criança. Como eu poderia não ter visto que causaria o dano, a dor? Será mesmo que eu não sabia que perder o que eu tinha seria recuperar toda a falta de paz que eu tinha? A falta em si. A morte da esperança.
Ficaria pensando... O que eu havia dado ao outro tinha sido tão pouco. Ou quase nada.


Quando notasse que sim, acabou todo o tempo, e que o cristal quebrado não poderia mais ser refeito, pensaria que haveria perdido o melhor amigo e amor. E tudo porque apenas eu o deixei ir embora. Tudo por culpa minha. E acho que isso me deixaria sim triste e infeliz.
Pensaria que eu daria tudo pra voltar atrás e tentar fazer diferente. Iria tentar entender, porque, meu Deus, porquê eu tinha de ter feito tudo de mal pra quem eu amava tanto?

Perceberia que...


eu não sairia impune dos meus erros. Que o outro tem princípios, tem inteligência e que é horrível e triste de admitir, mas eu fui muito mau. E perceber que agora tudo que era amor pra mim são lágrimas, que às vezes eu finjo que não choro, mas que me atormentam a cada lembrança.



E relembraria que nada tenho mais para argumentar, para convencer, para tentar. 
O outro estaria leve, sem culpa, sem remorsos. Eu saberia que ele havia feito de tudo. Implorou, pediu, tentou. A tranquilidade do outro diante do meu sofrimento ampliaria a minha dor. Mas no fundo eu saberia. Ele só está tranquilo por que fez realmente o que pôde.

Eu não iria desistir de tentar. Mas entenderia que já fiz muito mal a quem eu amava e deixaria ele seguir em frente, como uma última e talvez única prova de amor. Não poderia mais expor alguém que me havia sido tão bom a tanto sofrimento. E isso me traria dor. Sim. Mas seria minha decisão final, afinal o outro já haveria dito adeus.




Eu quereria pedir pra ficar... Mas nada iria adiantar. Ia prometer melhorar. Mas quem iria acreditar? Entenderia que eu podia ter errado, e ser perdoado. Mas fiz o outro sangrar. Não há mais como recomeçar diante disso.

Eu tentaria apenas dizer que...



Não era pra ter sido assim, que eu não pretendia magoar e ferir tanto e que realmente não sei ainda o que me fez cometer tantos erros com que nunca mereceu nada mais que coisas boas e que me pedia apenas pelo meu amor e respeito, que eu não sabia dar.
Eu saberia que esta era a melhor coisa que eu já havia tido e mesmo assim deixei ir:



Saberia que este havia sido meu maior erro...



Não ia querer ficar mal, nem sozinho. Mas eu me conformaria, porque teria sido exatamente o que eu procurei. Eu ia saber que fiz tudo sem pensar. 



Saberia que meu crime é sem perdão. Que foram erros tão vulgares, que com o fim de bebedeiras, de loucuras eu enxergaria como incabíveis. Saberia que eu falei e fiz tudo sem pensar. E lembraria do outro. E isso não seria bom pra mim. Porque eu ainda precisaria seguir em frente, esquecer, começar de novo. Viver uma outra vida, com outro alguém e tentaria não quebrar mais o cristal da confiança.


Teria a esperança que mesmo que cada canção de amor abre a ferida que não vê fim. E que cada fração da dor agora é chuva e cai em mim. Mas tudo vai passar, como tudo passará.



E saberia de algum jeito que o outro pode um dia sim me perdoar. Talvez não agora. E isso seria já um grande presente. E eu desejaria ao outro toda a felicidade do mundo. Pois era apenas isso que ele queria me trazer e eu não soube aceitar e retribuir. E assim, em paz, para os dois lados, seguiria em frente. E guardaria o silêncio apenas para não denegrir mais ainda o enxame de memórias ruins.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Tchau Jair

Tanta coisa me aconteceu nesses dias que agora cai em mim de que o cara que eu maissssss gostava de ver cantando morreu e eu nem sequer consegui expressar o que o quanto ele era o cara pra mim. 


Poucas vezes vi um intérprete se apoderar tão bem de uma letra, e em Disparada, de Geraldo Vandré, vejo ele mesmo dizendo as frases, tão fortes...

"Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar, eu vivo pra consertar"


Música que relembra a ditadura, mas que hoje, fala tanto comigo. Ver as coisas ruins e me manter forte. Viver pra consertar...

"E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando
As visões se clareando, até que um dia acordei"


Com todo mundo é assim? Viver querendo consertar, até que as visões se clareiem e fatalmente tenhamos que acordar de um sonho?

"Então não pude seguir valente em lugar tenente
E dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
Se você não concordar, não posso me desculpar
Não canto pra enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar"


Penso muito na letra como um caso onde se tenta tanto por tanto tempo, passando por cima de tudo, pra seguir um sonho, uma idéia. Mas que em algum momento, por sermos gente, não apenas gado que a gente tange em ferro engorda e mata, temos que acordar e seguir em frente, deixando pra trás aquilo que nos era crucial. E assim é, tentar cantar em outro lugar.

 Voltando ao Jair, penso nele como um cara tão bom, tão bom, que Deus permitiu que se fosse numa calmaria, sem dor, num descanso. Vejo sua família e a admiro. Bases sólidas.


 Letra simples, não sei quem compôs. Mas imagino o seu Jair dizendo isso pra sua Luciana.

"O filho do seu menino ficou rapaz
Garoto de gênio bom e trabalhador
Criado pra ser um homem
Pra ser bom pai tem que ser bom filho
Quem tem palavra é nesse mundo um vencedor

Quem olha só os prazeres que a vida traz
E vive nas entrelinhas dos homens sem raiz
Se enche de amores falsos
Pois hoje em dia tem gente que vive de fantasia
No desespero de ser feliz
"


 E quando penso nessa musiquinha, boba, vejo tantos valores incutidos...
Pra ser um bom pai tem que ser um bom filho. O que é que eu aprendi com meus pais? Dou orgulho ou alegrias a eles? Onde está minha raiz? E pra que eu olharia apenas pros prazeres que a vida traz, sem me apegar a algo mais valioso e eterno?


Em Vaqueiro de Profissão, um pedacinho que fala de mim também:

"Quando eu vejo boi desgarrado
Sinto que todo gado
Escapasse da minha mão
"


Pra que esse controle todo? Quando na verdade não consigo controlar nada. Nem sequer minhas vontades?

Podia ficar aqui falando de tantas que eu amo... Na voz dele...

O cravo e a rosa...


Majestade, o Sabiá... Acho que a letra mais linda de uma canção. Abençoada Roberta Miranda...

O meu mantra de hoje em dia: Tristeza



"Quero de novo cantar
Tristeza, por favor vá embora
Minha alma que chora
Está vendo o meu fim

Fez do meu coração a sua moradia
Já é demais o meu penar
Quero voltar à aquela vida de alegria
Quero de novo cantar
"



E só isso que espero. Voltar àquela vida de alegria... E de novo cantar!


No fim, o que vale é levar o outro mantra:

"Deixa que digam
Que pensem
Que falem
"