Ter um pensamento de vingança e realizá-lo significa apanhar um forte acesso de febre, mas que passa; ter, porém, um pensamento de vingança, sem força nem coragem para o realizar, significa trazer consigo um padecimento crónico, um envenenamento do corpo e da alma. A moral, que só olha para as intenções, avalia de igual maneira ambos os casos; em geral, considera-se o primeiro caso como pior (por causa das más consequências que o ato de vingança talvez traga consigo). Ambas as avaliações são de vistas curtas.
( Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano' )
( Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano' )
Quem nunca teve um pensamento de vingança em sua vida, que atire a primeira pedra.
Quem nunca planejou um ato insano, e logo, mesmo que por remorso, desistiu. Envergonhado ou não?
Quem nunca torceu por uma derrota do outro, que "tanto a fez por merecer", que "tanto desmereceu seu zelo ou atenção dispensados", a quem "tanto amamos e não recebemos o mesmo em troca"?
Lupicínio Rodrigues tem uma linda letra, "Vingança" que retrata com maestria e perfeição, o sentimento vergonhoso que por vezes se achega em nós e nos faz lembrar que somos humanos, suscetíveis aos pecados capitais:
Eu gostei tanto,
Tanto quando me contaram
Que ihe encontraram
Bebendo e chorando
Na mesa de um bar,
E que quando os amigos do peito
Por mim perguntaram
Um soluço cortou sua voz,
Não ihe deixou falar.
Eu gostei tanto,
Tanto, quando me contaram
Que tive mesmo de fazer esforço
Prá ninguém notar.
O remorso talvez seja a causa
Do seu desespero
Ela deve estar bem consciente
Do que praticou,
Me fazer passar tanta vergonha
Com um companheiro
E a vergonha
É a herança maior que meu pai me deixou;
Mas, enquanto houver força em meu peito
Eu nao quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar
Ela há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar
Tanto quando me contaram
Que ihe encontraram
Bebendo e chorando
Na mesa de um bar,
E que quando os amigos do peito
Por mim perguntaram
Um soluço cortou sua voz,
Não ihe deixou falar.
Eu gostei tanto,
Tanto, quando me contaram
Que tive mesmo de fazer esforço
Prá ninguém notar.
O remorso talvez seja a causa
Do seu desespero
Ela deve estar bem consciente
Do que praticou,
Me fazer passar tanta vergonha
Com um companheiro
E a vergonha
É a herança maior que meu pai me deixou;
Mas, enquanto houver força em meu peito
Eu nao quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar
Ela há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar
Letra triste e decadente. Humilhação assumida. Mas acontece...
E quando a vida de alguém é movida à vingança? Estou assistindo a uma série, onde o tema central é Vingança. Seu nome: REVENGE (Vingança em Inglês).
"Um evento ocorrido na infância de Emily Thornes transformou a sua vida e
a tornou em quem ela é hoje em dia. A trama de Revenge está centrada na
chegada de Emily a um círculo de amigos onde ninguém sabe que na
verdade o que a move é a sede de vingança daqueles que destruíram sua
família."
A série é muito intrigante. Apesar da protagonista ser podre de rica e ter condições de arcar com os preços da vingança, a trama é bem possível. Série viciante. O argumento de vingança de Emily é totalmente convincente e chega-se a torcer por ela. Mas ainda não expressa com tanta maestria o sentimento ruim que, agir por vingança, traz. Algumas vezes nota-se o sentimento de Emily, que ama alguém, mas para cumprir seus planos, tem de abdicar deste amor. Mas algo bem sutil, ainda, face ao horror que isso representa.
A personagem principal, e quem age dominado por este sentimento, não tem mais liberdade em seus atos, não tem escolhas momentâneas. Age e deve agir movida por seus impulsos vingativos. Abre mão de sentir. Quer apenas vingar.
Suas expressões, atos, idéias nunca são o que simplesmente são. Há sempre algo por trás.
Fica a dúvida: vivendo em clima de vingança, quem é que tem pior castigo? Quem se vinga, ou a pessoa que mereceu a vingança?